O Brasil enfrenta uma transição demográfica que deve impactar diretamente o sistema previdenciário nas próximas décadas. Um estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projeta que, até 2051, o número de beneficiários do INSS superará o de contribuintes.
Esse cenário acende alertas sobre a sustentabilidade financeira do sistema, uma vez que o envelhecimento acelerado da população pode aumentar significativamente os gastos com aposentadorias e pensões, enquanto a base de contribuintes tende a diminuir.
Leia mais:
Quando você vai receber o INSS em setembro de 2024? Veja o calendário completo
Crescimento da população idosa e impacto previdenciário
De acordo com o levantamento, realizado pelos pesquisadores Rogério Nagamine Costanzi e Graziela Ansiliero, o Brasil passará por um “rápido e intenso” processo de envelhecimento. A população idosa deve dobrar nos próximos 30 anos, elevando a pressão sobre a Previdência.
Entre 2012 e 2022, o número de aposentados e pensionistas aumentou 23,4%, e essa tendência de crescimento deve continuar, enquanto o número de contribuintes terá um avanço muito mais modesto. Até 2051, espera-se que haja 61,3 milhões de beneficiários do INSS, frente a apenas 60,7 milhões de pagadores.
Reforma da Previdência: uma necessidade emergente
Diante desse cenário, especialistas apontam para a necessidade de uma nova reforma da Previdência. O pesquisador Rogério Nagamine destaca que, embora o envelhecimento populacional fosse previsto, ele está ocorrendo de maneira mais acelerada do que o esperado. Com a diminuição dos contribuintes e o aumento exponencial dos beneficiários, será inevitável uma pressão cada vez maior sobre o sistema previdenciário.
A reforma de 2019 foi considerada um avanço importante, mas deixou de lado questões cruciais, como a Previdência Rural e dos servidores públicos estaduais e municipais. Apenas 1 em cada 3 municípios implementou uma ampla revisão de seus regimes próprios de previdência, o que agrava o quadro financeiro do país.
Desafios econômicos e a sustentabilidade da Previdência
O contexto econômico dos últimos anos também contribuiu para a situação delicada da Previdência. O fraco desempenho econômico entre 2012 e 2022 impactou negativamente o mercado de trabalho, com aumento da informalidade e queda na cobertura previdenciária. Mesmo com as recentes melhorias no Produto Interno Bruto (PIB), o crescimento não será suficiente para reverter os efeitos estruturais do envelhecimento populacional.
Em 2025, as despesas com benefícios previdenciários devem alcançar R$ 1 trilhão, representando quase metade dos gastos obrigatórios do governo federal. Essa cifra crescente reduz o espaço para investimentos em outras áreas importantes, como saúde, educação e infraestrutura.
Necessidade de ajustes no orçamento
A rigidez do orçamento brasileiro é outro fator que dificulta a implementação de políticas públicas que possam aliviar a pressão sobre a Previdência. Com mais de 90% das despesas classificadas como obrigatórias, a margem para cortes ou ajustes é limitada.
A equipe econômica do governo discute alternativas, como a redução de subsídios tributários e a revisão de benefícios sociais, mas essas propostas enfrentam resistência no Congresso e são impopulares junto à sociedade.
Conclusão
A projeção de que o número de beneficiários do INSS ultrapassará o de contribuintes até 2051 coloca em evidência a necessidade de reformas estruturais urgentes. Com o envelhecimento acelerado da população, o país terá que enfrentar o desafio de equilibrar as contas públicas sem comprometer a proteção social de milhões de brasileiros.
A busca por soluções que garantam a sustentabilidade do sistema previdenciário será crucial nos próximos anos.
Imagem: Leonidas Santana / Shutterstock.com
