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Novo consignado privado: Fintechs exigem igualdade de condições

O mercado financeiro brasileiro enfrenta uma nova encruzilhada com a proposta de um consignado privado apresentada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Esse novo modelo promete desburocratizar o acesso ao crédito, permitindo que trabalhadores solicitem empréstimos com parcelas descontadas diretamente de sua folha de pagamento.

No entanto, a ausência de clareza sobre a implementação da proposta tem causado inquietação, especialmente entre fintechs, que alertam para possíveis desigualdades competitivas.

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Fintechs buscam acesso justo a plataformas

O principal ponto de discórdia gira em torno do acesso a sistemas cruciais como o Dataprev e o INSS, que hoje são utilizados pelas grandes instituições financeiras para viabilizar suas operações de consignado.

A preocupação das fintechs é que, sem acesso a essas plataformas, sua capacidade de competir de maneira justa fique comprometida, favorecendo bancos tradicionais já estabelecidos. O cenário atual do consignado privado envolve um ambiente de transformação que pode moldar o futuro do crédito no país.

Como funciona o Consignado Privado

Empréstimo consignado
Imagem: Rafastockbr / Shutterstock.com

O crédito consignado é uma modalidade de empréstimo em que as parcelas são descontadas diretamente do salário do trabalhador ou do benefício recebido, como no caso de aposentados. Esse tipo de crédito tem se popularizado por oferecer juros mais baixos, uma vez que o risco de inadimplência é reduzido. O modelo atual exige convênios entre empregadores e instituições financeiras, dificultando a entrada de novos players no mercado.

O Ministério do Trabalho quer mudar essa estrutura, permitindo que as solicitações de empréstimo sejam feitas de maneira mais ágil, por meio de plataformas como e-Social e FGTS Digital. A proposta é vista como uma modernização necessária, mas está longe de ser unânime.

A visão das fintechs: clamor por isonomia competitiva

Fintechs, empresas que oferecem soluções financeiras digitais, estão preocupadas com as novas regras propostas. Segundo Sergio Furio, CEO da Creditas, a principal dificuldade está no acesso desigual aos sistemas que viabilizam a operação do consignado. Ele argumenta que, sem acesso ao Dataprev e outras bases de dados essenciais, as fintechs ficarão em desvantagem diante dos grandes bancos.

A questão central levantada pelas fintechs é a isonomia competitiva — um princípio que garante igualdade de condições entre os concorrentes de um mercado. Paula Martinelli, vice-presidente de Consignado no Neon, ecoa essa preocupação, afirmando que sem uma transição planejada, as fintechs podem ser excluídas desse mercado promissor.

A importância de uma transição equilibrada

Para as associações do setor, como a ABCD (Associação Brasileira de Crédito Digital) e a Zetta, é essencial que o governo implemente um período de adaptação. Rafaela Nogueira, economista-chefe da Zetta, ressalta que as instituições que já operam com consignado público têm uma vantagem considerável. O acesso prévio a sistemas complexos e a familiaridade com os processos internos coloca essas empresas em uma posição de destaque no novo cenário.

Sem um planejamento adequado, a implementação rápida do novo modelo poderia sufocar a inovação e limitar a oferta de crédito mais acessível, algo que as fintechs trazem como diferencial.

O papel do governo e as expectativas do mercado

Embora o Ministério do Trabalho tenha demonstrado abertura para dialogar com os diversos atores do mercado, a ausência de um texto claro gera um ambiente de incerteza. A proposta ainda precisa passar por discussões no Congresso Nacional, e possíveis modificações podem alterar significativamente o resultado final.

As fintechs estão ansiosas por um ambiente onde possam competir de igual para igual com os grandes bancos, algo que consideram essencial para manter a inovação e a competitividade no setor financeiro.

Considerações finais: o futuro do consignado privado

O novo consignado privado é visto como uma grande oportunidade para expandir o acesso ao crédito no Brasil, mas para que isso aconteça de forma justa, é fundamental que o governo garanta isonomia competitiva. As fintechs exigem um tratamento igualitário, de modo a competir em pé de igualdade com as instituições financeiras tradicionais.

À medida que a proposta avança, a cooperação entre o setor privado e o governo será crucial para criar um sistema que beneficie tanto os players do mercado quanto os consumidores. Se as demandas por isonomia forem atendidas, o Brasil poderá ver uma nova era no crédito consignado, marcada pela inovação e por uma oferta mais ampla de serviços financeiros.

Imagem: Wright Studio / shutterstock.com

Fernanda Ramos

Fernanda é graduanda em Letras Vernáculas pela UFBA. Estruturadora de textos nos portais Seu Benefício Digital e Benefícios para Todos.

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