Inflação dos alimentos: Guilherme Bastos defende isto para conter alta
A inflação dos alimentos é uma das questões mais desafiadoras para o Brasil, com impactos diretos no bolso da população e na economia como um todo.
Em 2024, o cenário foi de uma alta considerável nos preços de itens essenciais, o que gerou discussões sobre como controlar a inflação sem causar distúrbios ainda maiores no mercado. O economista e coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio do FGV Agro, Guilherme Bastos, apresenta propostas focadas em medidas equilibradas e sustentáveis para lidar com o problema.
Neste artigo, vamos explorar as propostas de Bastos para mitigar a inflação de alimentos, avaliando tanto os desafios como as possíveis soluções para garantir a estabilidade econômica sem sobrecarregar os consumidores.
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Inflação de Alimentos no Brasil: Causas e Desafios

A inflação de alimentos no Brasil tem se mantido acima da média do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos últimos anos. O impacto direto dessa alta é sentido principalmente pelas famílias de baixa renda, que dedicam grande parte de sua renda à compra de alimentos.
O economista Guilherme Bastos aponta diversas razões para esse aumento, entre elas o descontrole fiscal do governo, a pressão cambial e o efeito do mercado internacional sobre os preços de produtos agrícolas e alimentos.
Pressão Cambial e Impacto nos Insumos
Boa parte dos insumos agrícolas consumidos no Brasil são importados, o que faz com que a cotação do dólar tenha um grande impacto no preço dos produtos. Além disso, produtos como grãos e carnes têm seus preços influenciados pela exportação: quando a demanda externa é forte, os preços internos também tendem a subir.
Produtos Tradables e Não Tradables
Bastos diferencia entre os produtos “tradables” (que podem ser exportados e são afetados pela demanda internacional) e os “não tradables” (produtos que são consumidos localmente, como hortifrúti).
Para produtos não tradables, a flutuação de preços é mais volátil, como exemplificado com itens como tomate e cebola. No entanto, Bastos acredita que, no longo prazo, a recuperação de preços nesses produtos pode ser mais rápida.
Medidas Propostas por Guilherme Bastos para Controlar a Inflação
Guilherme Bastos é crítico de medidas populistas, como o controle rígido de preços ou a criação de estoques estratégicos governamentais, que, segundo ele, podem gerar distorções de mercado e ter efeitos negativos a longo prazo. Ele defende soluções mais equilibradas e de menor intervenção no mercado, para que as forças econômicas operem com mais liberdade e de forma sustentável.
1. Tarifa de Importação: Uma Medida Eficaz para Alimentos Importados
Uma das principais propostas de Bastos para conter a inflação dos alimentos é a redução ou até mesmo isenção de tarifas de importação. Ele exemplifica com o caso do arroz em 2020, quando a alta do preço no Brasil foi mitigada com a redução da tarifa de importação de arroz.
A medida fez com que atacadistas pudessem adquirir o produto a preços mais baixos, ajudando a estabilizar o mercado interno. A redução de tarifas de importação, para Bastos, é uma forma de equilibrar o mercado, evitando excessos de preços e permitindo o acesso de todos aos produtos necessários.
2. Seguros para o Setor Agropecuário: Garantia Contra Riscos e Incertezas
Outra proposta fundamental de Bastos é ampliar a cobertura de seguros agrícolas. No Brasil, a cobertura de seguro no setor agropecuário é extremamente baixa, cerca de 10 a 14% da área cultivada.
Bastos defende a criação de programas de subvenção ao prêmio do seguro, que incentivem os produtores a adotarem práticas mais sustentáveis e a mitigarem riscos associados a eventos climáticos adversos, que afetam diretamente a produção de alimentos.
3. Controle de Gastos Públicos: Fundamental para o Equilíbrio Econômico
Para Bastos, o controle de gastos públicos é essencial para reduzir a pressão inflacionária de forma geral. Ele destaca que o aumento dos gastos com políticas sociais, embora necessário para combater a desigualdade, pode acabar aquecendo ainda mais a demanda por alimentos e produtos essenciais, o que exacerba o problema da inflação.
A recomendação do economista é que o governo busque formas de equilibrar a ajuda social com a necessidade de controlar o consumo e estabilizar a economia.
Intervenção Governamental: O Que Funciona e O Que Não Funciona
Embora Bastos reconheça a importância de o governo intervir em certos momentos para garantir a segurança alimentar, ele acredita que intervenções inadequadas, como controle de preços ou estoques forçados, podem agravar a situação.
De acordo com o economista, essas medidas criam distorções no mercado e fazem com que os produtores ajustem sua produção de maneira artificial, sem atender a demanda real.
1. Subvenção à Produção Agrícola: Uma Alternativa Viável
Bastos defende que o governo deve focar em subsídios que incentivem a produção agrícola, como o Fundo de Garantia ao Produtor Rural e outros programas que ajudem o setor a se adaptar às mudanças de mercado, como a expansão das áreas cultivadas com produtos estratégicos.
2. Transparência e Análise de Oferta e Demanda: A Falta de Dados Críticos
Uma das maiores críticas de Bastos à gestão do setor agrícola no Brasil é a falta de dados detalhados sobre a oferta e demanda de alimentos, especialmente com relação a diferentes faixas de renda.
Ele defende que a criação de um sistema de acompanhamento mais rigoroso, como o feito pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), poderia fornecer informações valiosas para a formulação de políticas públicas mais eficazes.
Caminho para um Mercado de Alimentos Estável
Controlar a inflação dos alimentos no Brasil exige um esforço coordenado entre medidas fiscais, políticas de comércio exterior, e incentivos ao setor agrícola.
As propostas de Guilherme Bastos visam criar um equilíbrio entre a intervenção necessária para proteger os consumidores e a liberdade do mercado para ajustar a produção e os preços de acordo com a demanda real.
Com uma redução das tarifas de importação, expansão dos seguros agrícolas e um controle mais eficiente dos gastos públicos, é possível estabilizar os preços dos alimentos, sem recorrer a soluções temporárias que só aumentam as distorções no mercado.
Conclusão
A inflação dos alimentos é um desafio complexo, mas com as abordagens propostas por Guilherme Bastos, o Brasil pode encontrar soluções mais sustentáveis e equilibradas para lidar com o aumento dos preços.
Essas medidas visam não só ajudar na estabilização dos preços no curto prazo, mas também garantir um ambiente econômico saudável no longo prazo, onde os produtores e consumidores possam prosperar.
O caminho é árduo, mas, com políticas públicas bem estruturadas e baseadas em dados, é possível construir um futuro com mais segurança alimentar e preços mais acessíveis para todos.
Imagem: Freepik