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Fim do benefício? Quase 1 milhão deixam o Bolsa Família em novo corte

O Bolsa Família voltou ao centro das atenções após um novo corte atingir quase 1 milhão de famílias em 2025. A maioria dos excluídos pertence ao grupo de famílias unipessoais, ou seja, aquelas compostas por apenas uma pessoa. A redução gerou polêmica e preocupação, especialmente entre os mais vulneráveis.

De acordo com dados oficiais, 980 mil famílias unipessoais deixaram de receber o benefício, em um movimento que expõe as mudanças nas regras do programa desde sua reestruturação no governo Lula.

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Corte não se deve apenas à fiscalização

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Imagem: wayhomestudio – Freepik / fotodestock – Envato.

Segundo especialistas, o corte não está relacionado exclusivamente ao processo de fiscalização mais rigoroso, mas também à adoção de um novo critério de renda. A regra atual estabelece que a renda per capita da família não pode ultrapassar R$ 218 mensais.

Pequenas variações de renda excluem famílias

Para Ana Luíza Câmara, assistente social do Sistema Único de Assistência Social (Suas), a regra acaba excluindo pessoas em situação de vulnerabilidade real. “Às vezes, você vive sozinho, faz um bico, ganha R$ 300 no mês e já sai do critério. Isso não significa que a pessoa superou a pobreza”, afirma.

A rigidez nos critérios, portanto, tem causado exclusões automáticas sem necessariamente representar melhora na condição de vida dos beneficiários.

Famílias unipessoais sob pressão: número caiu drasticamente

Número de famílias unipessoais caiu 20% em um ano

Em 2023, o programa contava com 4,9 milhões de famílias unipessoais. Agora, em fevereiro de 2025, esse número caiu para 3,9 milhões, uma redução de cerca de 20%.

Além do critério de renda, outro fator tem pesado: o limite de 16% para concessão de benefícios a famílias unipessoais em cada município.

Limite municipal impede acesso mesmo com renda adequada

Mesmo famílias com renda dentro dos critérios podem ser deixadas de fora por causa desse teto. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), o objetivo da regra é corrigir distorções do período em que o Auxílio Brasil, da gestão anterior, esteve em vigor.

Entretanto, a medida tem gerado exclusões em massa, principalmente em grandes centros urbanos, onde o número de famílias unipessoais tende a ser maior.

Impacto da territorialidade: a exclusão é desigual

Cidades com maior população são mais afetadas

Em cidades com alta densidade populacional, o número de famílias unipessoais geralmente ultrapassa os 16% permitidos. Mesmo cumprindo os requisitos, muitas pessoas estão sendo barradas pela regra territorial.

Ana Luíza Câmara questiona a uniformização da política: “Como se pode aplicar uma regra nacional ignorando as desigualdades regionais do Brasil?”

Quem está sendo excluído do Bolsa Família?

Grupos ainda podem ultrapassar o limite com exceções

Segundo o MDS, o teto pode ser superado para famílias em situação de risco social, como:

  • Famílias com trabalho infantil;
  • Vítimas de trabalho escravo;
  • Comunidades quilombolas e indígenas;
  • Catadores de materiais recicláveis;
  • Pessoas em insegurança alimentar;
  • Famílias com violação de direitos.

No entanto, a ausência de critérios objetivos e a falta de transparência sobre o número de famílias excluídas tornam difícil avaliar o impacto real da medida.

Desafio de retornar ao programa

Regra de permanência ainda gera dúvidas

Mesmo com a chamada regra de permanência, que garante metade do valor do benefício por dois anos após superação temporária da renda limite, muitas famílias acabam sendo excluídas definitivamente.

Caso real ilustra dificuldades

Câmara cita o caso de uma senhora que vivia sozinha e foi excluída após passar a receber auxílio-doença, somando renda acima de R$ 218. Embora estivesse doente, perdeu o benefício e ainda não conseguiu retornar ao programa.

Mais de 60% dos municípios já ultrapassaram o limite

Segundo dados do VIS DATA 3, do MDS, 3.606 dos 5.571 municípios brasileiros (64,7%) já ultrapassaram o limite de 16% para concessão a famílias unipessoais.

Isso mostra que a regra, na prática, tem gerado um bloqueio generalizado, afetando principalmente os mais vulneráveis e invisibilizados do Cadastro Único.

Cadastro Único: a base de tudo

O Cadastro Único é a porta de entrada para o Bolsa Família, e sua atualização é fundamental. Mesmo famílias com perfil adequado podem ser barradas por dados desatualizados ou inconsistentes.

Dica importante:

Mantenha seu cadastro atualizado com visita presencial ao CRAS e leve todos os documentos necessários. Isso evita bloqueios e facilita a reanálise da situação.

O que fazer se o benefício foi cortado?

Passos para tentar recuperar o Bolsa Família:

  1. Verifique seu Cadastro Único no app CadÚnico ou presencialmente.
  2. Compare a renda registrada com o critério de R$ 218 por pessoa.
  3. Atualize os dados no CRAS mais próximo.
  4. Solicite a reanálise do benefício.
  5. Caso negado, busque apoio jurídico ou orientação social.

Conclusão: exclusão silenciosa e desigual

O novo corte no Bolsa Família mostra que, apesar dos avanços, a política social ainda enfrenta obstáculos estruturais. Famílias que vivem sozinhas, em especial, estão pagando o preço de regras que, embora tenham o objetivo de evitar fraudes, acabam excluindo quem mais precisa.

É necessário debater o limite municipal e a flexibilização de critérios, para que o programa cumpra seu objetivo: proteger os mais pobres.

Imagem: cookie_studio – Freepik / AtlasComposer – Envato

Ellen D'Alessandro

Ellen é redatora, cursando Letras — Licenciatura/Português e Alemão — na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Apaixonada por livros e séries de TV, escrevo também sobre benefícios sociais.

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