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Desigualdade cresce com falta de creches e escolas para mulheres em comunidades

A falta de acesso a creches e escolas públicas impacta diretamente a vida das mulheres, especialmente aquelas que vivem em áreas periféricas e favelas.

A pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), entre 2022 e 2023, revelou que a realidade da falta de vagas para crianças em escolas e creches na Baixada Fluminense e na Zona Norte do Rio de Janeiro tem agravado a desigualdade social, principalmente para mulheres que enfrentam dificuldades para conciliar a maternidade com a necessidade de trabalhar.

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Panorama das mulheres nas favelas e periferias

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Imagem: Freepik

Em locais como Jardim Gramacho, na Baixada Fluminense, cerca de 61,8% das mulheres relatam a falta de creches públicas para deixar seus filhos enquanto trabalham. Situação similar é vivida por moradoras de outras favelas como o Borel, na Zona Norte do Rio, e áreas do Complexo do Alemão, com índices que variam de 17% a 32% de mulheres sem acesso a creches ou escolas públicas em suas comunidades.

Gisely de Aguiar, uma moradora de Jardim Gramacho, compartilha sua realidade: ela é mãe de três filhos, dois dos quais não têm acesso a creches ou escolas públicas.

“Eu tiro do meu Bolsa Família para pagar escola particular para a minha filha. O mais novo nem tem vaga em creche”, conta Gisely. Essa dificuldade não é exclusiva dela, mas é a realidade de muitas mulheres em sua comunidade.

Dificuldades no desenvolvimento infantil

A falta de vagas nas creches não afeta apenas as mães, mas também o desenvolvimento das crianças. A educação infantil é fundamental para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional dos pequenos. Quando as mães não têm acesso a esse serviço público, elas precisam recorrer a alternativas caras, muitas vezes sacrificando recursos limitados, como os provenientes de programas sociais.

A pesquisa aponta que muitas mães que não conseguem acesso à educação infantil para seus filhos ficam sobrecarregadas, pois precisam se ausentar do trabalho ou pagar por cuidados extras, o que torna a situação ainda mais difícil economicamente.

Defasagem educacional e as consequências para as mulheres

Além das dificuldades em acessar a educação infantil, as mulheres das comunidades pesquisadas também enfrentam barreiras no acesso à educação básica e superior. A pesquisa revelou que cerca de 38,3% das mulheres do Borel e outras favelas não completaram o ensino fundamental.

Essa defasagem escolar tem um impacto significativo na qualidade de vida das mulheres, limitando suas oportunidades de trabalho e, consequentemente, sua independência financeira.

No Complexo do Alemão, onde o índice de mulheres com ensino superior é um pouco maior (6%), o número ainda está muito abaixo da média nacional. Em comparação, apenas 2% das mulheres do Borel concluíram a graduação, um dado alarmante que reflete as desigualdades educacionais e sociais que afetam as mulheres dessas regiões.

Falta de infraestrutura e apoio das políticas públicas

A falta de infraestrutura nas creches e a subnotificação do déficit de vagas agravam ainda mais a situação. Samantha Guedes, coordenadora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe), destaca que muitos responsáveis sequer entram para a fila de espera das creches públicas, já sabendo da falta de vagas.

“Os números de déficit de vagas nas creches são muito maiores do que imaginamos”, alerta Guedes. No Rio de Janeiro, a prefeitura foi condenada a pagar mais de R$2 bilhões por não ter conseguido zerar a fila de espera nas creches.

Segundo a Secretaria Municipal de Educação, ainda há milhares de crianças esperando por uma vaga, o que evidencia a negligência do poder público na resolução desse problema.

Impacto da falta de creches na desigualdade social

A desigualdade social no Brasil tem um grande impacto na educação infantil. Beatriz Abuchaim, da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, alerta que a falta de creches de qualidade nas comunidades mais vulneráveis perpetua o ciclo de pobreza. “O acesso à educação infantil de qualidade pode quebrar o ciclo intergeracional de pobreza”, explica Beatriz.

A educação infantil é fundamental para o pleno desenvolvimento das crianças, ajudando na detecção precoce de problemas de saúde mental ou dificuldades cognitivas. No entanto, a falta de acesso a essa educação básica cria um fosso ainda maior entre as crianças mais ricas e as mais pobres.

Meta do Plano Nacional de Educação

O Plano Nacional de Educação (PNE) tem como meta a universalização da educação infantil para crianças de 0 a 3 anos, mas, segundo dados do Censo Demográfico 2022, 2,3 milhões de crianças nessa faixa etária ainda não frequentam creches.

As famílias mais pobres enfrentam mais dificuldades para garantir a educação de seus filhos, pois a falta de vagas é mais acentuada nessas regiões. Isso impacta diretamente o futuro das crianças e o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária.

Conclusão: A luta por mais creches e educação para mulheres e crianças

A falta de creches e escolas públicas em comunidades periféricas do Rio de Janeiro é um reflexo de desigualdades mais profundas que afetam as mulheres, especialmente as que vivem em situação de vulnerabilidade social.

A realidade das moradoras de favelas e periferias exige uma resposta urgente das políticas públicas, tanto para garantir a educação infantil de qualidade quanto para oferecer apoio às mulheres trabalhadoras, permitindo-lhes exercer plenamente seus direitos ao trabalho e à educação.

É necessário que o poder público se responsabilize por essas deficiências e busque soluções para a universalização do acesso à educação infantil e a criação de mais vagas nas escolas, além de promover políticas públicas que garantam a igualdade de oportunidades para todas as crianças e mulheres.

Imagem: nd3000 / Envato

Ellen D'Alessandro

Ellen é redatora, cursando Letras — Licenciatura/Português e Alemão — na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Apaixonada por livros e séries de TV, escrevo também sobre benefícios sociais.

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