O mercado de apostas online se consolidou como uma verdadeira febre nacional. Com a entrada em vigor da regulamentação em janeiro de 2025, os brasileiros continuam destinando volumes bilionários às chamadas bets.
Segundo dados revelados pelo Banco Central (BC), entre janeiro e março deste ano, os valores mensais movimentados chegaram a impressionantes R$ 30 bilhões.
Leia mais:
SuperSim: empréstimo pessoal fácil? Saiba como simular e garantir seu dinheiro
Explosão das apostas online no Brasil
Um fenômeno crescente, mesmo com a regulamentação
Ao contrário do que muitos esperavam, a regulamentação das apostas eletrônicas não diminuiu o interesse do público. De fato, o secretário-executivo do BC, Rogério Lucca, declarou à CPI das Bets no Senado que os dados atualizados demonstram um aumento no volume de apostas em comparação ao período pré-regulamentação.
“Durante este ano, de janeiro a março, o valor que a gente acompanha gira em torno de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões por mês, ratificando o que estimamos no ano passado”, disse Lucca.
Como o Banco Central monitora o setor de apostas
CNAE e registros bancários facilitaram o rastreamento
Com a exigência de uma Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) específica para casas de apostas regularizadas, o Banco Central passou a ter maior controle estatístico sobre as movimentações. Ainda assim, o órgão ressalta que não divulgará os dados regularmente ao público, mantendo-os para consumo interno.
Limites da atuação do BC
Apesar de levantar números impressionantes, o BC não tem poderes para fiscalizar ou punir as bets que atuam fora da regulamentação. Quem detém essa prerrogativa é a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), vinculada ao Ministério da Fazenda.
Segundo o presidente do BC, Gabriel Galípolo, o órgão só pode agir mediante notificação da SPA, e mesmo assim, a ação de bloqueio deve partir das instituições financeiras, não do BC diretamente.
“O Banco Central não interrompe transações. Quem o faz são os próprios bancos, a partir de ordens da SPA”, explicou Galípolo.
Devolução em prêmios: quanto volta ao apostador?
Divergências entre Fazenda e BC
Os dados sobre o percentual de retorno das apostas também geraram discussões. De acordo com a SPA, 93% a 94% do valor apostado retorna aos jogadores como prêmio. Já o BC havia estimado anteriormente uma média de 85%.
Essas discrepâncias reforçam a necessidade de uma integração mais eficiente entre os órgãos reguladores e financeiros, para garantir maior transparência no setor.
Riscos financeiros e impacto no sistema bancário
Apostadores têm maior risco de inadimplência
Outro ponto levantado durante o depoimento de Galípolo à CPI foi o aumento do risco de crédito entre apostadores online. Segundo o presidente do BC, quem aposta tem maior probabilidade de inadimplência, o que leva os bancos a cobrar juros mais altos desses clientes.
Essa constatação já influencia a política de concessão de crédito das instituições financeiras, que veem nos apostadores um perfil mais propenso a dar calote.
CPI das Bets: o que está sendo investigado?
Comissão foca em impacto social e conexões criminosas
Instalada no Senado em novembro de 2024, a Comissão Parlamentar de Inquérito das Bets tem como relatora a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) e presidente o senador Dr. Hiran (PP-RR).
Entre os focos da CPI estão:
- O impacto das apostas no orçamento das famílias;
- A possível lavagem de dinheiro e financiamento ao crime organizado;
- A atuação das plataformas estrangeiras que operam no Brasil sem autorização.
Apostas com dinheiro público: Bolsa Família no radar
Pix de beneficiários não pode ser bloqueado, diz BC
Uma das preocupações levantadas por parlamentares é o uso de recursos do Bolsa Família em apostas online. Apesar disso, o BC afirmou não ter competência legal para bloquear chaves Pix ou transferências de beneficiários do programa social para plataformas de aposta.
Mesmo assim, Galípolo reiterou o compromisso do BC em colaborar com órgãos como o TCU, Ministério Público e Polícia Federal, caso sejam identificadas movimentações suspeitas.
Papel do BC na prevenção de crimes financeiros
Monitoramento contra lavagem de dinheiro e terrorismo
Embora o Banco Central não tenha poder de repressão direta, ele atua fortemente na prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. Sempre que uma instituição financeira identifica transações atípicas, o BC deve ser informado.
Esses dados são, então, repassados para o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que pode acionar o Ministério Público e a Polícia Federal para investigações mais profundas.
Apostas online no Brasil: o que vem pela frente?
Com bilhões em circulação mensal, o mercado de apostas representa um dos maiores desafios regulatórios da atualidade. A CPI das Bets deverá apresentar seu relatório nos próximos meses, com recomendações legislativas e administrativas.
Enquanto isso, especialistas defendem que o Brasil avance rumo a uma regulamentação mais rígida, com maior integração entre os órgãos de controle, e políticas de proteção aos consumidores, especialmente aos mais vulneráveis socialmente.
Imagem: Joédson Alves / Agência Brasil
